terça-feira, 23 de junho de 2009

Rimbaud


ALQUIMIA DO VERBO

    Para mim. A história das minhas loucu-
    ras.
    Há muito me gabava de possuir todas
    as paisagens possíveis, e julgava irrisórias
    as celebridades da pintura e da poesia mo-
    derna.
    Gostava das pinturas idiotas, em por-
    tas, decorações, telas circenses, placas,
    iluminuras populares; a literatura fora de
    moda, o latim da igreja, livros eróticos sem
    ortografia, romances de nossos antepassa-
    dos, contos de fadas, pequenos livros in-
    fantis, velhas óperas, estribilhos ingênuos,
    rítmos ingênuos.
    Sonhava com as cruzadas, viagens de
    descobertas de que não existem relatos, re-
    públicas sem histórias, guerras de religião
    esmagadas, revoluções de costumes, des-
    locamentos de raças e continentes: acredi-
    tava em todas as magias.
    Inventava a cor das vogais! - A negro
    E branco, I vermelho, O azul, U ver-
    de. Regulava a forma e o movimento de
    cada consoante, e , com ritmos institivos,
    me vangloriava de ter inventado um verbo
    poético acessível, um dia ou outro, a todos
    os sentidos. Era comigo traduzí-los.
    Foi primeiro um experimento. Escre-
    via silêncios, noites, anotava o inexprimível.
    Fixava vertigens.

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