terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Liberdade: uma perspectiva intrínseca


A natureza humana alberga dois bens essenciais para cada um de nós - vida e liberdade. A vida é o bem mais importante do homem, pois sem ela nenhum outro teria relevância. É na verdade um pressuposto para a existência dos outros. Já a segunda pode ser um pressuposto para se viver de forma digna e saudável. Nada faz sentido na vida se não houver liberdade. Quando nela falamos, não podemos restringir a grandeza de seu significado ao campo material, pois não se quer tratar apenas do direito de locomoção de ir e vir, mas do bem em toda sua plenitude: mental e corporal. A liberdade mental ou de consciência é a maior, senão a única forma de se desenvolver o bem estar e a felicidade. Assim, fica claro a importância da identificação das causas ou fatores responsáveis pela ameaça desse bem essencial da vida humana.

O primeiro deles, talvez o mais arrebatador e de maior dificuldade de superação, é o vício. É muito óbvio que qualquer tipo de vício é capaz de cercear a liberdade de uma pessoa. A compulsão aprisiona o indivíduo deixando-o refém de uma única necessidade e privando-o de tudo mais que a vida lhe poderia oferecer. Trata-se de uma complexa causa de restrição de liberdade porque há uma conjunção física e psíquica.

O segundo fator a ser identificado é o medo. É inquestionável que este em algumas formas é capaz de aprisionar uma pessoa. É lógico que se está falando do medo patológico e não dos receios e limites naturais que são sentidos por todos. O medo ou temor exagerado por qualquer coisa nos imobiliza, tornando-nos inócuos às adversidades. O medo de arriscar nos furta as possibilidades e o medo concreto (de coisas ou pessoas) nos paralisa. De qualquer forma o medo nos tira a liberdade de consciência, reduzindo significativamente o nosso campo de vivência.

Não obstante tudo isso, existe uma característica humana capaz de nos aprisionar perpetuamente e de forma silenciosa e extremamente eficaz – a vaidade. Embora seja reconhecida como um vício, a vaidade deve ser questionada com maior altivez, já que o seu processo de aprisionamento se dá de forma imperceptível.

O indivíduo vaidoso vira refém do conceito que outros estabelecem a seu respeito. A vaidade o impõe limites e cerceia a felicidade, caso essa seja capaz de “ manchar” a reputação. Em muitos casos aliados a ela vêm a mentira como forma de manter a boa fama ou de dissimular aquela que não a é. A frustração também é outro sentimento experimentado.

Essa presunção nada mais é que o enchimento do ego com o próprio ego. O indivíduo presunçoso acredita piamente que é aquilo que pensam dele, mesmo que de fato não o seja. Por isso diz-se que está cheio de si. Em verdade está cheio de nada, de mentiras, está vazio. O orgulho constrói um individuo sem sentido próprio, uma vacuidade de vida e de verdades. Suas atitudes passam a ser guiadas pelo ego, desprendendo-se da consciência e do bom senso. Há uma deturpação dos valores que fortalece o conceito próprio em detrimento da verdadeira necessidade que lhe é sugerida.

Por fim, existem muitas causas que podem influenciar a nossa perda de liberdade. Talvez a vaidade seja a mais difícil de ser eliminada, pois ela é a união das outras. É um vício, pois há uma compulsão em se estabelecer uma imagem, mas também é um medo, já que o vaidoso não consegue mostrar suas fragilidades e fraquezas. Desvencilhar-se dos conceitos e preconceitos é, sem dúvidas, a melhor forma de se conquistar a felicidade e de se viver de forma leve e plena.

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